20.10.15

Decisões


Tomar decisões...Algo tão básico e constante na vida, e sempre tão complicado para mim... Tenho mais dificuldades na tomada de decisão, que efectivamente em concretizar o que decidi.
É parvo... Detesto ser assim... Tento melhorar... Mas de facto é um problema que tenho... No entanto, tenho tomado (e concretizado) decisões importantes, que achava nunca ser capaz!
Aquela grande, que ainda hoje me espanta e não sei como consegui, foi emigrar.
Eu. Emigrar.
Os meus amigos mais antigos, os mais próximos, e a família percebem o absurdo que isto era! Ela, emigrar? Pois sim!
Eu era a primeira a saber isto.
E no entanto, uma vez entranhada a ideia, já não havia nada a fazer, a não ser ir, mesmo. Experimentar. Tentar. Por mais que doesse... E, oh, se doeu!
Quando surgiu a oportunidade, tratamos da partida em apenas duas semanas. 2 semanas! Que grandes malucos!
Despedi-me de um emprego sem condições mas que adorava! Um trabalho que adorava fazer, todos os dias. Um emprego com a minha melhor amiga de há anos, aquela que já é família. Um emprego com duas amigas que conheci lá e se tornaram também as minhas pessoas, as minhas meninas desta fase "adulta" da vida, em que já é tão difícil fazer amigas assim.
Despedi-me.
Chorei baba e ranho toda a viagem de regresso a casa. Uma viagem de 40 minutos.
Os dias antes da partida foram... bem... digamos que ainda hoje tenho sonhos maus com isso. A tristeza tão crua, tão intensa. O medo. Fiquei de cama, com febre, que somatizar é cá comigo...
A despedida dos meus é algo que quando recordo, sozinha no meu canto, ainda me faz chorar. Quase três anos depois. Nunca seria capaz de descrever o sentimento.
Mas tinha de ser, já não ia voltar atrás.
Agarrei-me à maior força que tinha, o meu R. que partia comigo e com a mesma dor, e lá fomos nós, à malucos! Sem trabalho certo, nem casa, nem certezas. Essa fase inicial foi tramada! Passamos por cada uma!! Nunca esqueceremos. Descobri forças que não sabia que tinha. Descobri que aqui a totó, afinal é uma totó bem desenrascada! Aos poucos tudo se foi arranjando. Sorte atrás de sorte. O Universo claramente a conspirar a nosso favor!
Um estúdio em tamanho caixa de sapatos, deu lugar a um apartamento pequeno mas jeitoso, e velho e branco e giro e parisiense!
Bons trabalhos, bons colegas, boas condições. Uma equipa de trabalho que é uma borga e torna os meus dias mais fáceis. Colegas que me ajudam na adaptação, inclusive uma colega portuguesa!
O tempo passa.
O aperto da saudade nunca se alivia.
Aperta sempre. Aperta mais. Ás vezes sufoca...
Começamos a conhecer a realidade de viver em Paris, e o encanto torna-se numa relação amor/ódio.
Vamos de férias a Portugal regularmente. Cada ida e volta é uma montanha russa que dá cabo de mim. Cada regresso a França é uma dor maior que o regresso anterior. Em cada partida no aeroporto eu sinto claramente que não quero viver assim, não quero esta vida para mim. Não quero ser emigrante. Passam 2 anos assim. Cada vez me ligo mais ás pessoas com quem trabalho, mas cada vez sofro mais com a falta das minhas pessoas. Com a falta de tudo que seja Casa. Português. Das coisas mais simples e básicas da nossa vidinha em Portugal. Damos valor a coisas que não dávamos tanto. Apercebo-me da falta doentia de natureza, de mar, da língua, de estar presente nos momentos importantes, estar perto dos nossos. Ver a minha sobrinha a crescer. Ir buscá-la à escola. Ir a concertos com a minha irmã. Ter os meus pais pertinho. E a dor cresce. Até já fazer mal.

Então começou um novo ano, e tomaram-se decisões. Em Janeiro decidimos voltar a ser grandes malucos. Idiotas. Sonhadores. Decidimos regressar. A Casa. A nossa Casa. A Portugal. Decidimos regressar às nossas pessoas. Aos aniversários, aos baptizados e festas populares. A estar pertinho dos que amamos, e não perder momentos importantes.
Decidimos assim também regressar a um país em crise. Regressar sem trabalho e sem estabilidade nem certeza nenhuma. Só incertezas. E um medo enorme!
Mas quando a alegria de regressar supera o medo, sabemos que tem de ser uma boa decisão. Na verdade nem importa se é boa ou má. É a nossa decisão de idiotas sonhadores! :)



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